Um Conto de Terror.
Classificação - 14 anos
UM CONTO DE TERROR
A escuridão descia sobre os pinheiros do gramado, o clima frio e seco dominava a noite silenciosa e a única coisa que se podia ouvir eram os passos secos de um homem alto que se aproximava por uma trilha.
O peso no estômago aumentava a cada passo que se seguia e ele podia se sentir cada vez mais perto do que buscava.
Lawrence, Kansas, Janeiro de 1998
Com passos apressados o jovem de cabelos negros compridos andava por uma rua deserta, não que estivesse afastado do centro, mas por já ser tarde da noite. Em seu Walkman tocava uma canção que falava de uma estrada para o inferno a qual ele cantarolava baixinho. O som dos passos apertados era o único audível pela rua deserta, chegava até a ser macabro todas aquelas casinhas com cercas brancas e brinquedos no quintal mergulhadas no silencio mórbido da noite.
A cena fazia-se pensar em como que de noite as coisas mudavam, não havia mais o barulho das crianças brincando nos quintais, nem jogando baseball nas ruas, os carros já estavam imóveis como grandes feras de aço esperando para serem acordadas ao giro de uma chave e as ruas silenciosas eram o pior de tudo, várias pessoas morriam por andar desavisadas por elas e no exato momento estava tudo tão quieto que era possível deitar nelas, como que por uma fração de segundos, como que por um tempo errado as vidas se perdem. É algo tão frágil, frágil como uma cortina de vapor saindo de uma chaleira que com uma corrente de vento se destrói, assim como pela dose errada de remédio ou pela picada de um animal venenoso a vida se vai.
Estava a apenas algumas casas de distância da sua e já podia sentir a energia convidativa do lar se aproximando.
O jovem abaixou com delicadeza a maçaneta dourada e ela deslizou gentilmente convidando-o para entrar, a sala estava com a luz de um abajur aceso que projetava uma luz quente e amarelada, um estranho rastro vermelho se extendia por de trás do sofá.
- Pai? – A voz seca e cansada do jovem ecoou por toda casa enquanto ele seguia o rastro vermelho.
O rastro seguiu por toda a sala e passava por debaixo da porta do escritório, o jovem abriu a porta rapidamente.
A sombra escura levantou-se de um susto, os olhos verdes escuros o fitaram por um momento antes dele pular pela janela.
- Pai! – O jovem foi correndo na direção do corpo jogado no chão.
O corpo estava com o rosto desfigurado e pálido, os olhos pálidos o fitaram distantes.
- John... – A voz do velho foi sumindo e os olhos se empalideceram como se estivessem embaçados.
- Pai! – John balançou o corpo rígido do pai – Pai! – As lagrimas começaram a rolar doloridas pelos olhos, como se fossem gotas de metal quente descendo pelo rosto – Pai, eu vou faze-lo pagar.
Aquelas lembranças emocionaram John como nunca o fizeram antes, a sensação do dever cumprido deveria trazer felicidade, mas ao invés disso o fazia se sentir estranho, como se agora, que havia feito o que demorara dez longos e torturantes anos para fazer, a vida não houvesse mais sentido, a sensação de inutilidade era algo estranho, era como se ele fosse um peão no meio de um jogo de damas, já não havia mais sentido continuar ali.
O único som audível era os dos passos encharcados de emoção de John Gates enquanto saia da floresta de pinheiros e entrava por um gramado cheio de lapides de mármore branco que reluziam sob a lua enquanto John cantarolava com os lábios semi-abertos uma canção que falava de uma estrada para o inferno como na noite em que aquele pesadelo havia começado e agora estava para acabar.
- Pai, me espere que eu estou indo de volta para casa – John disse enquanto se ajoelhava diante de uma lápide de mármore que ficava bem na ponta de um penhasco.
John caminhou lentamente, como se o momento que se seguisse fosse importante demais para se passar rapidamente, mas a verdade era que a parte humana, a parte física, repugnava a idéia enquanto no fundo a sua alma clamava por liberdade, por encontrar seu pai.
O penhasco se aproximava lentamente de seus pés e quando finalmente chegou abriu os braços como uma bailarina e se soltou no buraco escuro do penhasco, mas o que estava ali não era mais o penhasco escuro que conhecia e sim um túnel colorido que se formava a sua volta, ele via as cenas passarem ao seu redor, como o dia em que nasceu pelas mãos daquele médico que podia ser muito bem o segurança do hospital, John jamais havia visto a sua mãe tão de perto, ela era mais bonita do que nas fotografias, tinha uma graça quase angelical que enchia o ar, logo em seguida vieram as cenas de seu aniversário de 3 anos, o seu pai com o rosto barbudo o erguia no ar enquanto ele soprava as velas, ao ver essa cena seu peito se apertou como se estivesse sendo atropelado por um rolo compressor, mais adiante podia ver sua primeira bicicleta, a sensação era parecida com essa que estava sentindo agora, como se não houvesse mais fronteiras, como se o mundo fosse apenas uma gota d’água enquanto o vento batia em seus cabelos, o túnel se tornou negro e John logo reconheceu que havia começado o pesadelo, os olhos verdes o fitando, os olhos embaçados de seu pai, a caçada pelas ruas de Roma, Paris, Nova York, Bulgária até finalmente achar aqueles malditos olhos verdes, ele os fizera implorar, suplicar, até que com o som da sua pistola os olhos verdes ficaram embaçados como duas bolinhas de gude pregadas em um rosto pálido como cera e então ele viu o fim do estranho museu da sua vida e em seguida o gramado escuro abaixo dele, o seu corpo caiu com um baque seco e a dor que ele pensou que iria sentir havia sumido, algumas versões da história dizem que logo após ele se levantou e viu o corpo jogado no chão e ensangüentado e então uma voz o chamou.
- John! – A voz era conhecida.
- Pai! – John correu nas sua direção e então seu pai o pegou pela mão e começou a subir pelo ar.
- Muito obrigado pelo que você fez filho, mas foi errado, você ira para um lugar diferente do que eu fui, boa sorte – E então ele sumiu como se fosse uma cortina de vapor e uma longa estrada surgiu em seu lugar.
As lagrimas rolaram pelo seu rosto de uma maneira estranha, como se tivesse realizado estranhamente o que pretendia, não iria passar a eternidade junto de seu pai como planejara, mas não havia mais volta, tomou a estrada reconhecendo seu destino e cantarolou aquela canção que falava de uma estrada para o inferno, depois disso ninguém mais sabe o que aconteceu com John Gates.
FIM
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